Instituto de Cinema de SP

O que é a Black List e como ela está ajudando as produções cinematográficas

Criada pelo executivo cinematográfico Franklin Leonard, no ano de 2005, a Black List é uma publicação anual que lista os melhores roteiros oferecidos aos estúdios americanos que não foram filmados. A publicação se tornou uma das mais vistas pelo mercado de entretenimento. Um dos motivos para esse interesse é porque alguns filmes premiados saíram dessa lista, caso de “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008), “Argo” (2012), “O Discurso do Rei” (2010), “O Jogo da Imitação" (2014) e "Spotlight: Segredos Revelados” (2015). Todas essas produções tiveram seus roteiros ignorados por Hollywood e após entrarem na Black List, acabaram sendo produzidos e ainda ganharam algumas das categorias mais importantes do Oscar.


A criação da Black List se deu porque Leonard estava revoltado com a qualidade das produções cinematográficas hollywoodianas, que segundo o executivo estavam sem qualidade, sem graça e recorrendo a diversas adaptações, algo que não valorizava o cinema autoral e criativo. Devido a isto, quando ainda era funcionário a Appian Way, produtora de Leonardo diCaprio, Franklin Leonard chamou 93 profissionais da indústria cinematográfica para escolherem anonimamente os melhores roteiros não produzidos no ano de 2005. O próprio criador compilou sozinho os votos que cada obra havia recebido, as classificou em ordem crescente e divulgou ao público. Logo após a divulgação, a lista se tornou um verdadeiro sucesso, atraindo a atenção do mercado que persiste até os dias atuais.


Desde sua criação a Black List, vem sendo apontada como uma das iniciativas que mais contribuíram para a melhora na qualidade das produções cinematográficas. A lista foca em roteiros originais ou aqueles que tenham narrativas filosóficas, diversificadas e sutis. Para se ter uma ideia de como a “lista negra” teve uma adesão quase que imediata pelos estúdios americanos esses foram os filmes que apareceram no primeiro ano da lista : “Juno” (2007), “Babel” (2006), “Diamante de Sangue” (2006), “A Pequena Miss Sunshine” (2006) e “A Procura da Felicidade” (2006). Graças a ideia de Leonard todos eles e muitos outros foram realizados. Depois de todo esse sucesso, Franklin Leonard criou um site, um canal no Youtube e tem uma conta no Twitter onde anualmente apresenta os bons roteiros não produzidos do ano. Ele ainda mostra os motivos porque a obra deveria ser filmada. Ao todo são mais de 500 personalidades do cinema, entre atores, diretores e produtores, que votam na Black List.


Qual a importância da Black List?


Como sabemos os grandes estúdios de Hollywood não costumam investir em obras autorais e em alguns casos não são muito abertos a criatividade. Talvez, uma das últimas obras autorais que um grande estúdio aceitou investir sem saber muito do que se tratava, porém como haviam gostado do roteiro resolveram arriscar, foi “Matrix” das irmãs Wachowski. O filme fez tanto sucesso e se tornou uma das trilogias mais bem-sucedidas do cinema para delírio da Warner Bros. Hoje, o cenário mudou e um novo Matrix é inimaginável, mas com a auxílio da Black List as coisas estão mudando, porque a lista vem construindo para descobrir excelentes produções que podem aliar qualidade com lucro. E, de quebra, ajudam a indústria cinematográfica a sair da mesmice dos blockbusters ou remake de sucessos do passado.


Outro ponto de destaque para Black List é como ela evidenciou o descaso que Hollywood tinha com roteiros que debatiam a diversidade. Um exemplo foi a franquia, “Jogos Vorazes” (2012), que estava há anos tentando ser levada às telonas mas sem êxito, mesmo sendo uma série de livros de relativo sucesso. Tudo porque alguns produtores americanos não acreditavam que o público iria se interessar pela história de Katniss Everdeen, uma garota de 12 anos, forte, independente que vive em um mundo distópico e pós-apocalíptico, uma heroína mulher não tinha a simpatia dos grandes estúdios.


O cenário começou a mudar quando o roteiro do filme apareceu na Black List de 2009, como uma das melhores opções de produção para uma franquia de sucesso. Depois de ter sido mencionado na lista o livro vendeu 4,3 milhões de cópias e seu roteiro foi adquirido pela Lionsgate, uma produtora independente de Vancouver no Canadá, que na época só tinha em seu catálogo de filmes o terror “Jogos Mortais”. A saga de Katniss Everdeen, protagonizada por Jennifer Lawrence, chegou aos cinemas em 2012 e lucrou US$ 408 milhões na bilheteria dos Estados Unidos e outros US$ 286 milhões no exterior. Os quatros filmes da franquia renderam aproximadamente US$ 2,3 bilhões (R$ 8,8 bilhões) aos cofres do estúdio.


A lista ganhou tanta relevância no universo cinematográfico que a partir de 2014 começou a ser anunciada por meio de vídeo com astros do cinema e profissionais da indústria. Para o criador da Black List, Franklin Leonard, a lista não é a solução definitiva para a falta de criatividade e diversidade em Hollywood. Porque apesar de todo empenho na divulgação da mesma, são poucos filmes que saíram dela que renderam boas bilheterias com raras exceções. No entanto, ele destaca que em uma época em que é cada vez mais necessário que todos os públicos sejam ouvidos e respeitados, a Black List se mostra como uma janela para narrativas mais representativas nas telonas.


Black List 2018: filmes com os melhores roteiros não produzidos


No dia 17 de dezembro de 2018 saiu a lista dos melhores roteiros não produzidos por Hollywood no ano. Por isso, listamos os melhores colocados. Pode ter certeza que daqui alguns anos pelo menos um ou mais desses filmes estarão nas telonas ou no streaming.


“Frat Boy Genius” de Elissa Karasik recebeu 36 votos


Uma funcionária descontente do Snapchat conta a ascensão de seu ex-colega de Stanford, Evan Spiegel, e como esse “idiota” se tornou o criador dessa rede social.


“King Richard” de Zach Baylin recebeu 35 votos      


A verdadeira história de Richard Williams, o pai intransigente que transformou a carreira de duas crianças prodígios no tênis a irmãs Venus e Serena Williams.


“Get Home Safe” de Christy Hall recebeu 34 votos


Uma jovem precisa ir para casa sozinha no Dia das Bruxas, sem bateria no celular ela vai contar com ajuda de um grupo de nerds para conseguir chegar ao seu lar.


“Drudge” de Cody Brotter recebeu 30 votos


A história de Matt Drudge, excêntrico repórter que descobriu o escândalo sexual envolvendo Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton. Como ele descobriu tudo do computador do seu apartamento em Los Angeles.


"Harry\'s All Night Hamburgers", de Steve Desmond e Michael Anthony Sherman, recebeu 30 votos


Um veterano do colegial descobre que o antigo restaurante de beira de estrada que fica fora da cidade é secretamente usado como ponto de encontro para viagem a um universo paralelo.


"Promising Young Woman" de Emerald Fennell, recebeu 30 votos


Uma mulher depressiva por causa do suicídio de sua melhor amiga que foi abusada na adolescência. Ela vive um dilema entre buscar uma vingança em nome da amiga ou seguir em frente para recomeçar sua vida.


Parcerias


Vale lembrar que no dia 27 de janeiro de 2019, foi anunciado no Festival de Sundance de 2019 em Park City que o grupo de defesa de mídia LGBTQ GLAAD fez parceria com a The Black List para criar a lista GLAAD, uma nova lista dos mais promissores roteiros inclusivos LGBTQ em Hollywood


Por Marcela Servano

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