Instituto de Cinema de SP

Você já conhece o Story Circle?

Dan Harmon é um roteirista norte-americano, mais conhecido por seu trabalho com as séries Rick and Morty (2013-2020) e Community (2009-2015), e por criar a estrutura narrativa chamada Story Circle.


A estrutura criada por Harmon pode ser entendida como uma versão “reduzida” da famosa jornada do herói, criada por Joseph Campbell em 1990, que conta com 17 etapas. Essa jornada já havia sofrido algumas modificações propostas por Christopher Vogler, que a apresentou nas 12 etapas que conhecemos hoje e são mais comumente usadas no audiovisual. Estrutura narrativa que, em suma, traz um modelo circular, no qual o herói parte para uma aventura retornando ao seu mundo comum transformado.


Harmon, por sua vez, propõe uma jornada em apenas 8 etapas. Confira cada uma delas abaixo!


1. YOU (VOCÊ): É a apresentação do protagonista, podendo ser até mais de uma pessoa, ou uma família, por exemplo. Deve ser alguém com quem o espectador pode se identificar. Aqui ele está em seu mundo comum, na zona de conforto.


2. NEED (NECESSIDADE): Esse mesmo personagem deseja alguma coisa que não tem. É esse desejo, essa necessidade, que o faz tomar uma atitude na próxima etapa, por isso deve ser muito bem trabalhada e apresentada.


3. GO (PARTIR): Ele parte em uma aventura para conseguir aquilo que deseja, entrando em uma situação ou mundo não familiar. Esta é a etapa em que a ação e o movimento da história, a aventura em si, começa a acontecer.


4. SEARCH (PROCURA): Em busca do que deseja, deve sobreviver nesse novo mundo, se adaptando como for preciso para enfrentar as ameaças e obstáculos que aparecem em seu caminho.


5. FIND (ENCONTRA): Corresponde aproximadamente ao midpoint, momento no qual o personagem encontra aquilo que desejava (independente se gosta do que encontra ou não). Ao encontrar o que procurava, alguma coisa faz o personagem perceber algo ainda mais profundo dentro dele. Mesmo que não seja o midpoint, essa etapa faz o rumo da história mudar e o personagem precisa tomar uma decisão.


6. TAKE (PEGAR): Ao conseguir o que queria, o personagem paga um preço por isso. Ou seja, mais do que apenas “pegar”, este é o momento em que sofre as consequências. 


7. RETURN (RETORNO): Ele regressa ao seu mundo comum, à situação inicial. Baseado na   necessidade de manter os dois “mundos” separados, geralmente há uma certa resistência daqueles que habitam este mundo desconhecido em deixar o personagem retornar ao mundo comum. Dependendo da história, esse retorno poderá ser mais ou menos fácil.


8. CHANGE (MUDANÇA): O herói sofre uma transformação durante a sua aventura, que é crucial para a resolução da história. Por exemplo, em um filme de ação este é o momento da batalha, ou então do argumento final em um julgamento; se for um filme de amor, agora o protagonista entende o significado do sentimento e está pronto para amar. 


Além de seu caráter circular, há uma simetria perceptível em relação aos pontos da estrutura proposta. Essa simetria aparece traçando, por exemplo, uma linha horizontal no círculo, separando os pontos 1, 2, 7 e 8 dos demais, que ficam na parte inferior. Isso ocorre pois o ponto 3 (parte em busca de algo) é o momento em que a história muda de direção. Enquanto a parte superior representa a consciência, a ordem e a vida, a parte inferior representa o inconsciente, o caos e a morte. 


Por exemplo, na parte superior o herói se encontra em seu próprio mundo, enquanto na inferior está em outro completamente desconhecido. Se até ali estava tudo muito confortável, este é o momento em que a vida do personagem vira de ponta cabeça dentro de um mundo completamente novo, voltando apenas no ponto 7 (retorno).


Ao mesmo tempo, a simetria também ocorre traçando uma linha vertical, deixando de um lado os pontos 1 a 4 e do outro os pontos 5 a 8. Aqui, enquanto na primeira parte o personagem está em busca do que quer, na segunda ele já conseguiu e sofre as consequências disso, inclusive uma grande transformação ao final.


Confira abaixo um exemplo da aplicação do story circle no piloto de Community:




  1. ALGUÉM: Jeff é um manipulador talentoso que praticava advocacia sem ter licença para tanto e foi descoberto.




  2. QUER ALGUMA COISA: Jeff quer a garota (Britta) e o diploma para poder a voltar para sua vida normal o quanto antes.




  3. VAI ATRÁS: O protagonista entra no Community College, cria um grupo de estudos falso de espanhol e convida a garota para participar. Ao mesmo tempo, para conseguir o diploma, Jeff tenta manipular Ian Duncan, um professor da faculdade que já foi seu cliente, para que lhe arranje as respostas de todas as provas.




  4. PROCURA: A notícia de que há um grupo de estudos de espanhol se espalha e outras pessoas começam a chegar, em pouco tempo já estão todos brigando. Duncan resiste a fazer o que Jeff lhe pediu.




  5. ENCONTRA: Duncan cede e entrega o envelope com o que Jeff acredita serem as respostas. Enquanto isso, o grupo de estudos está um caos e Britta havia afirmado que concordaria em sair com o Jeff se o grupo de estudos se mostrasse impossível de ensinar.




  6. PAGA O PREÇO:  Em troca do envelope, Jeff entrega seu carro a Duncan, e o envelope acaba não contendo as respostas das provas. Além disso, Britta mentiu e não só não quer sair com Jeff em um encontro, como também o expulsa do grupo.




  7. VOLTA: Jeff recupera seu carro e admite ao grupo que não tem as respostas da prova.




  8. MUDANÇA: Jeff percebe que não sabe como viver de outra forma que não enganando e manipulando as pessoas ou pegando o caminho mais fácil. Ele é convidado para voltar ao grupo de estudos e decide estudar para a prova com seus novos colegas.




 


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Por Ana Clara P.S.M.O.

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