Produções de streaming devem concorrer a prêmios de cinema?

Ganhou força a discussão sobre a participação de produções dos serviços streaming em premiações de cinema, sobretudo no Oscar, que parece ter ainda os principais opositores à ideia. A discussão aconteceu por algum tempo, até que dia 23 a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que é responsável pelo Oscar, decidiu manter a participação dos serviços na premiação, mantendo também suas regras. Essas são: não é necessário o lançamento exclusivo em salas de cinema e é permitida estreia em conjunto no streaming.
Entenda o caso
Algumas pessoas ligadas ao meio cinematográfico defendem que filmes lançados por serviços de streaming não devem ter o direito de concorrer a uma premiação de cinema. Isso por diversos fatores, como a falta da experiência de assistir ao filme na telona e a capacidade de alcance que o streaming possibilita, diferente do cinema. O Festival de Cannes, por exemplo, não permite a entrada de filmes do tipo.
Com o alcance de “Roma” (2018) nas premiações e a conquista de 3 estatuetas no Oscar, o assunto repercutiu ainda mais. Steven Spielberg, por exemplo, se pronunciou defendendo que a Academia deveria mudar algumas regras de inserção na premiação.
Spielberg acredita que filmes provenientes de serviços streaming devem concorrer ao Emmy, que tem a categoria de Melhor Filme para Televisão. Em seu argumento também pontua o fato de que a Netflix não divulga seus dados de audiência e participa muito pouco da exibição em salas de cinema, apenas para que possa tornar seus filmes passíveis de indicação. “Roma”, por exemplo, ficou nas salas de cinema por três semanas antes de ir para a plataforma, contra os 90 dias estipulados pela Academia.
O que também incomoda é o fato de que a companhia tem muito poder aquisitivo para promover suas produções, realizando grandes campanhas e eventos, junto à promoção nas redes. Somando tudo isso, existe preocupação no que diz respeito à experiência cinematográfica. Fala-se sobre a possibilidade dessa essência ser perdida, já que o streaming torna capaz assistir os filmes em casa (ou qualquer outro lugar), não mais levando as pessoas aos cinemas, em frente a uma tela que faz parte do sentir o cinema. Além da preocupação na comparação de alcance que uma obra tem quando chega apenas aos cinemas e quando está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Mas como toda discussão é uma via de mão dupla, a Netflix se pronunciou a respeito, defendendo sua ideia de ser mais acessível e chegar onde muitos filmes não chegam. Pontuam a dificuldade que algumas pessoas podem ter de chegar até salas de cinema, que nem sempre são acessíveis. O serviço diz amar a sétima arte, mas também amar o fato de chegarem mais longe por um preço baixo.
Em defesa da Netflix também existem algumas personalidades, como Ava DuVernay, diretora de “13ª Emenda” (2016), documentário produzido pela plataforma que concorreu ao Oscar. Ava defendeu em seu Twitter que o serviço é um dos poucos a disseminarem conteúdo criado por negros. “One of the things I value about Netflix is that it distributes black work far/wide. 190 countries will get WHEN THEY SEE US.”, cita a força de alcance que o serviço proporciona, como com sua nova minissérie “When They See Us”.
As produções Netflix vêm crescendo muito e começam cada vez mais se atrelarem a grandes nomes. Martin Scorsese lançará neste ano o filme com o qual a plataforma pretende chegar ao próximo Oscar. “O Irlandês” vem com um elenco de peso, com atores como Robert DeNiro e Al Pacino.
Para tornar possível a entrada de seus filmes na premiação, a Netflix pretendia lançá-los primeiro nos cinemas, mas com a decisão tomada pela Academia, o serviço pode manter o processo que realizou com “Roma”. Nos resta aguardar os próximos filmes lançados pelas plataformas e assistir ao seu desempenho em premiações como o Oscar. E também até onde será aprovado.
Por Mariana R. Marques