Instituto de Cinema de SP

CRÍTICA | Dash & Lily

Em novembro chegou à Netflix uma nova série natalina como parte de sua programação de fim de ano. Dash e Lily são completos opostos que, como todo bom casal de um clichê que a gente adora, também se complementam.


A série é baseada no livro “O Caderninho de Desafios de Dash and Lily” (no inglês, “Dash and Lily’s Book of Dares") de David Levithan (“Will e Will”, “Garoto Encontra Garoto” e “Todo Dia”) e Rachel Cohn, ambos autores de obras voltadas para o mundo jovem adulto bastante aclamadas pela crítica e pelo público. A parceria dos dois é de longa data, e inclui obras que seguem uma mesma estrutura, inclusive perceptível pelos seus títulos, a exemplo de “Nick and Norah\'s Infinite Playlist”, “Sam & Ilsa\'s Last Hurrah” e “Naomi e Ely e a Lista de Não Beijos”, também adaptada para a Netflix em 2015.


A adaptação para a obra serializada ainda conta com o nome de Nick Jonas na produção executiva, além de uma divertida participação especial, e Joe Tracz como principal produtor e roteirista.


Em oito curtos episódios conhecemos Dash (Austin Abrams), um quieto e ao mesmo tempo excêntrico lobo solitário adolescente, ainda remoendo as dores de seu último relacionamento. Durante a época mais festiva e “família” do ano, seu presente para si mesmo é ficar sozinho, o que, por si só, já nos diz bastante sobre o personagem. Em paralelo, Lily (Midori Francis) é uma grande entusiasta do Natal - que forma até mesmo um coral com amigos mais velhos do bairro -, mas que, nesse ano em específico, se vê sozinha com seu irmão Langston (Troy Iwata) em uma casa que costuma ser cheia de pessoas igualmente animadas e cômodas tradições.


Por ser uma garota com dificuldades de fazer amizades com outros jovens, mas um grande desejo de conhecer alguém especial, seu irmão tem a ideia de criar uma espécie de caça ao tesouro utilizando um de seus cadernos, já que essa é a única maneira que ela se sente confortável para expressar seus sentimentos: escrevendo.


Assim, com o empurrão de Langston, Lily cria algumas charadas e desafios que devem ser cumpridos para quem se interessar em entrar nessa brincadeira e o esconde em sua livraria favorita. O caderno chama a atenção de Dash, que se intriga com toda a situação e quer conhecer a pessoa por trás dessa ideia maluca. 


Para que ambos descubram a identidade um do outro, porém, devem cumprir diversos desafios, desde desvendar mensagens e recitar uma música natalina na frente de diversas pessoas sem ideia do que está acontecendo, até conversar com o papai noel de plantão da loja Macy \'s.


O que torna toda essa confusão ainda mais divertida, além de se passar na época mais aconchegante e caótica do ano, é a ambientação em Nova York. Mas ao contrário de alguns outros clichês ou obras audiovisuais que se passam nessa cidade, em Dash and Lily as locações são exploradas com naturalidade, servindo como pano de fundo para o foco da série, que são os desafios. Ao mesmo tempo, esses lugares conseguem ser muito bem aproveitados a ponto de deslumbrar com a neve, as cores típicas da época e toda a sua grandeza. E falando em cores, esse é outro elemento que chama atenção, pois está presente de forma agradável e harmônica, colaborando também para dar personalidade aos personagens, especialmente através de suas roupas.


Como tudo, a série tem alguns pontos em que poderia melhorar, e o principal deles é o roteiro do último episódio, que destoa dos demais por conter diálogos bastante expositivos sem a menor necessidade. Como tudo no cinema e televisão, a regra show, don’t tell (mostre, não conte) deve sempre prevalecer, sob pena de tornar uma cena redundante ou um diálogo simplesmente sem função alguma dentro da narrativa, uma vez que não acrescenta nenhuma nova informação.


Fora isso, Dash and Lily surpreende em termos de organização. Com diversos plot twists inesperados, a história é estruturada em um vai e vem muito bem pensado que brinca com a expectativa de quem está assistindo e torna a experiência ainda mais divertida, e a trama ainda mais imprevisível - com exceção do final, já que, como foi falado no início, a série é mais um clichê que a gente adora.


Troy Iwata rouba qualquer cena em que aparece, fazendo um trabalho incrível e com uma naturalidade surpreendente, todos os clichês conseguem ser retratados de uma forma nova que traz à tona suspiros de desespero e alívio, e o retrato desses jovens - apesar de viverem em uma bolha, como é falado por uma personagem para a própria Lily - é genuíno e sem muitos eventos irreais e espalhafatosos, contribuindo para gerar uma conexão e identificação ainda maior com o espectador.


Em geral, Dash and Lily é uma série de comédia romântica adolescente, mas bastante divertida para pessoas de qualquer idade. É também sobre família e os mais diversos tipos de relações, desde amizades até um crush desconhecido com quem você troca mensagens através de um caderninho vermelho. Ou seja, é uma história gostosinha de aquecer os corações e digna de maratona, perfeita para essa época do ano.


Com o sucesso na plataforma, e a existência de uma sequência do livro original, tudo indica que a série será renovada para uma próxima temporada. Esperamos ver Dash e Lily novamente na Netflix no Natal de 2021.


 


Ana Clara P.S.M.O.

voltar
Fale Conosco Ícone branco transparente WhatsApp