A dramédia de sucesso de Phoebe Waller-Bridge

“Quando algo é real, é possível contar qualquer coisa”, a frase da inglesa Phoebe Waller-Bridge consegue resumir bem sua curta, porém já consolidada e aclamada, trajetória audiovisual. A atriz, roteirista, dramaturga e produtora é reconhecida como um dos nomes mais promissores no cenário televisivo atual ao trazer um olhar realista e honesto em suas produções. A série Fleabag, realizada para o canal britânico BBC e co-produzida com a Amazon Prime, tem classificação 100% no Rotten Tomatoes em suas duas temporadas e é seu projeto de maior destaque.
O roteiro de Fleabag teve início nos palcos de teatro de Edimburgo, no Reino Unido. Isso porque ela nasceu do monólogo teatral homônimo, montado e interpretado por Waller-Bridge, que abordava temáticas trágicas com toques de sarcasmo, em um desabafo da atriz com a platéia.
A série apresenta o cotidiano de uma jovem, interpretada por Phoebe Waller-Bridge, dona de uma cafeteria beirando a falência, que possuiu relacionamentos instáveis com seu namorado e sua família, e precisa lidar com um aparente vício em sexo e traumas passados que serão explorados no decorrer da trama. A protagonista lida com todas essas questões utilizando do sarcasmo para esconder suas inseguranças, dores e desejos que muitas vezes aparecem simultaneamente. Além de todas as circunstâncias já complicadas na vida de Fleabag (apelido da protagonista, já que não conhecemos seu verdadeiro nome), na segunda temporada da série ela ainda se apaixona por um padre. Pois é.
Ao tratar de temáticas da vida adulta com humor, ironia e melancolia, Waller-Bridge busca desmistificar o papel feminino e acabar com clichês sobre relações familiares e sexo - que aparece como coadjuvante, de maneira cômica e sem delongas. Assim, ela cria um contato intimista com o telespectador, que se torna cúmplice e confidente da protagonista solitária e autodestrutiva.
Não é para menos a sensação de proximidade que o público tem com a personagem, já que ela mesma fala conosco constantemente utilizando da quebra da quarta parede para fazer um comentário sarcástico, suspirar, lamentar e nos dar um olhar - ou vários - que geram conexão instantânea graças a genialidade com que Phoebe realiza essas trocas com o público.
Ao longo dos 12 episódios da série, vemos a evolução de Fleabag e sua aproximação com as pessoas que a cercam, ao mesmo tempo em que nosso papel como aliado da protagonista vai perdendo força e ficando cada vez mais distante. O roteiro da série consegue apresentar a redenção da protagonista de maneira tão honesta e paciente, que nós, espectadores, nos damos por satisfeitos com este afastamento.
Além de Phoebe Waller-Bridge, a série conta com atores como Andrew Scott (Sherlock), Brett Gelman (Stranger Things) e Olivia Colman, vencedora do Oscar 2019 de melhor atriz por A Favorita. A dramédia é considerada a segunda melhor série desta década pela Indiewire e, possui diversos prêmios, sendo um Bafta, e também é uma das grandes apostas do Emmy 2019, com 11 indicações - incluindo de melhor roteiro, melhor direção e melhor atriz.
Por Leticia Takeia